segunda-feira, 19 de junho de 2017

[Poema] Oceano

Escuro
Pesado
As profundas trevas do
Eterno oceano
Oculto de toda
inteligência
Em suas sombras
rastejam os mistérios
Do inimaginável.




[Poema] Perdidos

CABEÇAS GIRANDO
transições descabidas em meios inóspitos
CORPOS SE CONTORCENDO
e fogo queimando, ardendo, derretendo.

Mãos machucadas
sangue escorre do incicatrizável
véu de luz e podridão
sem choro e sem diapasão

Vida longa...
muitos anos em um
muitas vidas em duas

Sem final, sem conclusão
vazio e dispersão
inviável maldição.

[Conto] O jovem mago


O mago se sentia perdido. Seus olhos não brilhavam mais, sua juventude e inexperiência resultavam em profunda insatisfação com a vida e seus desdobramentos. Para ele, a humanidade – da qual ele fazia ele também era membro – não passava da aglomeração de seres sujos. Ele não enxergava empatia ou sincronia naquela massa amorfa e indulgente. 

“Humanos...”, essa existência o incomodava. Seus pensamentos construíam catedrais de ódio, ele não suportava mais a inadimplência desses seres em relação ao mundo que viviam. O mago torcia o nariz toda vez que via o caos emanado pelas aglomerações humanas. Sua indignação crescia ao encarar o profundo narcisismo proferido por esses seres, principalmente quando encarava a mentira do “indivíduo”. Ele pensava, “...como esses ignorantes podem ser tão arrogantes ao ponto de achar que o tal “Eu” deles significa alguma coisa para esse mundo? Toda essa divisão que eles criam não existe, tudo nesse universo é uma e só existência. O ‘eu’ também é um ‘outro’, o ‘mundo’ é parte mim e ‘eu’ parte mundo! Não passam de palavras ilusórias que não refletem nada...”. 

Imagem conferida em: http://www.delightgamesllc.com/art/
O jovem mago estava impaciente, ele sentia ódio e nenhum de seus aprendizados, nenhuma de suas conversas com os antigos mestres e deuses acalmava o seu coração tempestuoso. As energias ao seu redor começaram a distorcer toda a realidade. Ele sentia fortemente todos os fluxos de sentimentos e pensamentos que passavam por ele. Nada passava despercebido. Muitas vezes a sua energia era sugada, pois o desespero lhe impedia de controlar plenamente os seus poderes. Ele estava em crise, sua jovem existência não conseguia lidar com o ódio e as trocas de energia. 

“As cidades são monstro, humanos não são melhores que vampiros!”. Com esse pensamento formulado, sua decisão seguinte foi a de se afastar. Seu coração machucado não aguentava, ele precisava da cura de suas amigas curandeiras: as árvores. Em meio às grandes florestas, isolado de toda a civilização, o mago trocava energias com as velhas forças da vida. Ele aprendeu mais com as árvores do que com humanos. Os padrões aleatórios e retorcidos dos troncos e galhos imitavam a existência. Tal exuberância encantava o jovem mago, ele conversou por meses com as árvores, em um profundo estado de meditação, aonde suas energias cresciam, assim como o seu aprendizado, pois as árvores eram faladeiras, seus padrões contam a história da vida. 

Acalmado de seus profundo desespero, novamente em posse de si mesmo, o mago rumou para cidade, mais poderoso do que havia partido. Ao invés de ódio, o que preenchia seu coração era uma profunda misericórdia. Ele ouvia uma voz gritando dentro de si: “… meu trabalho é ensiná-los, ou seja, devo aprender com os humanos. Eles ainda não aceitaram seu caminho enquanto seres viventes, então, tomarei essa missão para mim. Abrirei os olhos deles, quero que eles se enxerguem, assim eles contemplarão o mundo!”.