domingo, 5 de março de 2017

[Conto]Balbúrdia dos Sentimentos


Algumas palavras especificas me chamam muita atenção: solidão e distância. Não entendo exatamente qual é a magna diferença entre elas, pois uma leva a outra e vice-versa. Posso ser distante mesmo presente, assim como posso ser solitário enquanto acompanhado. Procuro racionalizar essas impressões para que elas não sejam simples fragmentos espalhados pelo ar da minha mente. Mas não tenho muito sucesso, confusão, caos, bagunça, esse é o fluxo do meu sentir e pensar.

Tenho uma pessoa presa na minha consciência. Não sei se ela existe. Não sei se o que sinto é apenas uma impressão ou empirismo. Não sei se o que lembro é ela ou o que eu construí como ela. A figura do teatro rodeia minha cabeça, aonde tudo se desenrola numa narrativa que só eu sei e que só eu conto para mim. Não consigo mais ver o mundo como algo dado, fixo e existente, mas o vejo como uma cadeia interpretativa, aonde nada existe, apenas as impressões e representações.

Lembro dela, lembro de enxergá-la com meus olhos, é uma lembrança viva, com tanta beleza, tantas cores, tantas molduras. Mas não sei mais se lembro dela, ou se lembro da minha visão. Sinto um buraco no peito, e ele nunca vai ser fechado. É minha noção de vazio, é a sensação de saber que tudo está errado. Não detenho as rédeas da minha vida, ela segue por caminhos que nunca vou imaginar: essa noção gera um misto de ansiedade com vontade de saber. 
Sinto falta dela… sinto falta de toques vivos, de cheiros bons, de sensações em todo o meu corpo… Mas não sei se seria bom para ela. Por mais que eu saiba o que fazer para curá-la, também sei que não consigo. Um espirito me chama (ou seria um demônio?) a seguir um caminho que não controlo. Desejo ser mais do que eu, mas também desejo me isolar em mim mesmo. 

Contradição, indecisão, dúvidas. Tópicos que regem minha existência. Não consigo me mover, não consigo tomar as rédeas do meu caminho. Estranhamente gosto de ser um mero observador. O meu sentido da visão, o meu sentido de multidão, me faz enxergar a vida como um filme, um teatro que se desenrola enquanto eu, confortavelmente sentado em minha poltrona, assisto aos sucessivos números que me parecem distantes e irreais. Por isso ainda me pergunto... minhas lembranças dela são reais? Meu desejo de estar com ela é de verdade? Minha vontade de chorar em seus braços não é ilusão?

Sinto as pessoas, infelizmente sinto elas muito bem. Consigo captar os pensamentos delas ao meu redor, mesmo que eu não tenha vontade alguma, o meu sentimento de multidão ouve e assimila tudo como parte de mim. Aqui há uma diferenciação muito importante, enquanto aquele que vê, consigo me manter distante; enquanto aquele que ouve, sou envolvido por sentimentos que não são os meus. Mas eu não consigo mais entender se isso tudo é um grande mal entendido. Será que o que penso sentir das outras pessoas não é uma mera extensão de mim? Sinto ou simulo?

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