Algumas
palavras especificas me chamam muita atenção: solidão e distância.
Não entendo exatamente qual é a magna diferença entre elas, pois
uma leva a outra e vice-versa. Posso ser distante mesmo presente,
assim como posso ser solitário enquanto acompanhado. Procuro
racionalizar essas impressões para que elas não sejam simples
fragmentos espalhados pelo ar da minha mente. Mas não tenho muito
sucesso, confusão, caos, bagunça, esse é o fluxo do meu sentir e
pensar.
Tenho
uma pessoa presa na minha consciência. Não sei se ela existe. Não
sei se o que sinto é apenas uma impressão ou empirismo. Não sei se
o que lembro é ela ou o que eu construí como ela. A figura do
teatro rodeia minha cabeça, aonde tudo se desenrola numa narrativa
que só eu sei e que só eu conto para mim. Não consigo mais ver o
mundo como algo dado, fixo e existente, mas o vejo como uma cadeia
interpretativa, aonde nada existe, apenas as impressões e
representações.
Lembro
dela, lembro de enxergá-la com meus olhos, é uma lembrança viva,
com tanta beleza, tantas cores, tantas molduras. Mas não sei mais se
lembro dela, ou se lembro da minha visão. Sinto um buraco no peito,
e ele nunca vai ser fechado. É minha noção de vazio, é a sensação
de saber que tudo está errado. Não detenho as rédeas da minha
vida, ela segue por caminhos que nunca vou imaginar: essa noção
gera um misto de ansiedade com vontade de saber.
Sinto
falta dela… sinto falta de toques vivos, de cheiros bons, de
sensações em todo o meu corpo… Mas não sei se seria bom para
ela. Por mais que eu saiba o que fazer para curá-la, também sei que
não consigo. Um espirito me chama (ou seria um demônio?) a seguir
um caminho que não controlo. Desejo ser mais do que eu, mas também
desejo me isolar em mim mesmo.
Contradição,
indecisão, dúvidas. Tópicos que regem minha existência. Não
consigo me mover, não consigo tomar as rédeas do meu caminho.
Estranhamente gosto de ser um mero observador. O meu sentido da
visão, o meu sentido de multidão, me faz enxergar a vida como um
filme, um teatro que se desenrola enquanto eu, confortavelmente
sentado em minha poltrona, assisto aos sucessivos números que me
parecem distantes e irreais. Por isso ainda me pergunto... minhas
lembranças dela são reais? Meu desejo de estar com ela é de
verdade? Minha vontade de chorar em seus braços não é ilusão?
Sinto
as pessoas, infelizmente sinto elas muito bem. Consigo captar os
pensamentos delas ao meu redor, mesmo que eu não tenha vontade
alguma, o meu sentimento de multidão ouve e assimila tudo como parte
de mim. Aqui há uma diferenciação muito importante, enquanto
aquele que vê, consigo me manter distante; enquanto aquele que ouve,
sou envolvido por sentimentos que não são os meus. Mas eu não
consigo mais entender se isso tudo é um grande mal entendido. Será
que o que penso sentir das outras pessoas não é uma mera extensão
de mim? Sinto ou simulo?
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